sexta-feira, 17 de abril de 2009

Inserção de estudantes com deficiência na escola

Há menos de dez anos, se os pais de uma criança com deficiência tentassem matricular o filho em uma escola comum, além de receber um não, provavelmente, voltariam para casa convencidos de que a tentativa tinha sido irresponsável - ou mesmo absurda. Em 1998, a presença dessas crianças - à época chamadas de portadoras de necessidades especiais - era praticamente restrita às escolas de ensino especial. Estas concentravam exatos 99,2% do total de matrículas, segundo o Censo Escolar daquele ano.Os tempos são outros, para alívio dos pais de Tamires dos Santos, de 9 anos, e da própria menina, que não é segregada por ser diferente de outras crianças. Ela, que possui deficiência física decorrente de paralisia cerebral, sempre freqüentou escolas regulares. Seu caso é um exemplo de que o tratamento em relação à deficiência mudou. Hoje, garotas como Tamires são chamadas simplesmente de crianças com deficiência - termo cada vez mais presente em escolas de todo o país, assim como uma nova palavra adicionada ao vocabulário do sistema de ensino: inclusão. Prova disso é o Censo Escolar de 2006, que mostra a queda de matrículas na rede de ensino especial: 53,5%.Os números impressionam e confirmam que a inclusão é uma tendência que se consolida em nosso país. Algo assumido como meta pelo Ministério da Educação (MEC), que tem realizado programas de capacitação com enfoque inclusivo para professores e gestores educacionais. A adoção da política não é acaso. O MEC vem respondendo a uma demanda da própria sociedade.Histórias como as de Ariel Figueiredo, de 20 anos, ajudaram o Estado e as escolas a perceber que o sistema de ensino precisava mudar para ter condições de oferecer educação de qualidade para toda e qualquer criança, independentemente de suas dificuldades. Maria Helena Figueiredo, mãe de Ariel, matriculou o filho, que possui síndrome de Down, em uma escola para crianças com deficiência mental quando ele tinha 1 ano. Ali, Ariel permaneceu até os 7. "Foi importante, pois ele recebeu todo o atendimento necessário para a fase de estimulação precoce," afirma. "Mas chegou um momento em que percebi que a rotina dele era muito limitada. Ele nem havia começado a ser alfabetizado." Maria Helena passou a procurar escolas em Campinas (SP), onde vivem, e precisou ser persistente até encontrar uma que o aceitasse. A experiência na nova escola durou apenas três anos, pois os professores mostraram-se despreparados para lidar com ele. O garoto, então, passou a estudar na escola Curumim, conhecida por incluir crianças com deficiência. "Não havia paternalismo, apenas um olhar diferente para as necessidades dele." Ariel acompanhou a mesma turma até a oitava série, que concluiu aos 17 anos. "Eu mantinha contato com outras crianças com Down e notava uma diferença muito grande no desenvolvimento do Ariel." Depois, passou a freqüentar o ensino médio em um curso supletivo. A escolha deveu-se à dificuldade com matérias da área de exatas. No curso, ele faz uma disciplina por vez, o que garante tempo para dedicar-se ao teatro, que é sua grande paixão."A inclusão que praticamos dá resultado, pois nossa metodologia de ensino valoriza a diversidade," afirma a diretora da Curumim, Gláucia Ferreira. Entre os 380 estudantes matriculados na escola, alguns deles superdotados, há 40 alunos com deficiência. A escola limita a participação de crianças com deficiência a dois alunos por sala, sendo que cada classe possui, no máximo, 25 pessoas. Caso matriculasse todas as crianças que procuram a escola, a Curumim passaria a atuar como especializada, tamanha a procura por vagas. "Isso demonstra a vontade dos pais em incluir seus filhos no sistema regular", afirma Glaúcia. "A inexperiência das escolas dificulta o processo de inclusão."A inclusão vem aumentando a cada ano, mas o país ainda perde alunos no decorrer do processo de ensino. O Brasil possui 466.155 alunos com deficiência no ensino fundamental (primeira a oitava série). No ensino médio, o número cai para 14.150. Cerca de 97% dos alunos deficientes desistem de estudar. A evasão é uma marca do ensino brasileiro como um todo, embora o índice de abandono geral seja menos escandaloso: cerca de 74% dos estudantes deixam a escola a partir da oitava série. "As causas da evasão escolar de alunos com e sem deficiência são complexas", afirma a secretária de educação especial do MEC, Cláudia Dutra. "Fatores de ordem cultural, social e econômica contribuem para o fracasso e a evasão escolar, assim como as questões relacionadas a mitos e preconceitos." Tais fatores costumam resultar de falta de conhecimento: não apenas de professores, como dos próprios pais. "Crianças deixam de estudar por absoluta falta de informação da família", afirma a assistente social Vera Pereira. Ela é responsável pelo atendimento da Associação Laramara, referência no trabalho com deficientes visuais, e acredita que a inclusão é uma questão de atitude que deve começar em casa, com a família acreditando no potencial da criança. "Família protetora não acredita em inclusão. Ora responsabiliza os professores ora a escola, que não tem recursos ou não oferece segurança.

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